Sindicalismo deve reagir ao deliberado ataque às instituições
Por Valmir Ribeiro
A ruptura institucional só interessa àqueles que, na defesa mesquinha de interesses inconfessáveis, não se adaptam ao regramento constitucional e aos pilares de sustentação da democracia.
Manifestação pela “Intervenção Militar” em Brasília. Foto: Sérgio Lima/AFP
Há muito venho acompanhando, com preocupação, os trágicos desdobramentos que a radicalização ideológica está impondo à nossa frágil e jovem democracia. Regimes autoritários, via de regra, iniciam sua escala tirânica quase sempre pelo mesmo ponto de largada: ataque planejado a reputações de adversários ideológicos e às instituições que, pela repartição de poderes da República, impõe limites e regras ao embate político.
As sucessivas manifestações dominicais, com participação de autoridades políticas e do próprio presidente da República emitem um sinal que não deve ser desprezado: há, sim, uma predisposição à ruptura institucional no país! As declarações públicas palacianas, quando seguem um nível de ponderação, somente a procedem desta maneira por mero “cálculo político” de que, pelo menos por enquanto, um autogolpe seria inviável. Mas a estratégia desse “morde e assopra” tem revelado, até aqui, sua eficácia na escalada da ousadia de continuar corroendo preceitos democráticos e republicanos, inseridos na Constituição, sem que as reações sejam proporcionais ao nível de delinquência que se comete.
Diante desse cenário, as entidades sindicais não têm outro caminho senão o da defesa da democracia e das instituições republicanas. Relevante compreender que se torna impossível uma atuação sindical efetiva sem a preservação dos direitos civis, da liberdade de expressão e de imprensa, bem como o reconhecimento e a legitimação de seu papel institucional. Uma organização sindical é, invariavelmente, a representação política de determinada categoria, a voz e a expressão dos anseios e valores destes.
Uma ruptura institucional, como já observada em diversas experiências autoritárias, sempre encontra no sindicalismo seu primeiro alvo – nada mais revelador da relevância democrática das representações sindicais. É somente dentro de um aparato legal, que estabelece direitos e deveres das entidades de classe, que o sindicalismo encontra as indispensáveis “ferramentas” de atuação.
Está na hora de convergirmos para um bem maior e inegociável. Estimular disputas entre os que compreendem o regime democrático como indispensável a qualquer projeto de nação que se pretenda desenvolvida, é um tiro no pé! Aliás, qualquer democrata reconhece a legitimidade de seus adversários no campo ideológico. Somente ditadores – ou admiradores destes – buscam a eliminação (no sentido amplo da palavra) dos que não convergem com suas ideias.
Precisamos, juntos, construir ampla unidade - até mesmo com adversários ideológicos – em defesa da DEMOCRACIA. Sem ela até poderemos existir “no papel”, mas essência da luta sindical e seus mecanismos de atuação política e social desapareceriam.